Castanhas “Quentes e boas”
O tempo vai refrescando, o Outono instala-se no dia-a-dia, com a natureza a dar os sinais da época: as copas das árvores a amarelarem, o Sol que teima em esconder-se sobre o manto de nuvens. Com os assomos do Inverno é reconfortante o calor proporcionado pela dúzia de castanhas, escaldando nas mãos, compradas em resposta ao apelo mais que apregoado do “quentes e boas”.
Consideradas, actualmente, quase como uma “guloseima” de época, as castanhas, em tempo idos, constituíram um nutritivo complemento alimentar, substituindo o pão na ausência deste, quando os rigores e escassez do Inverno se instalavam. Cozidas, assadas ou transformadas em farinha, as castanhas sempre foram um alimento muito popular, cujo aproveitamente remonta à
Pré-História.
Breve apontamento sobre a história da castanha
• A palavra latina castanea (do grego kastanon) como origem dos termos castanheiro e castanha.
• Presume-se que a castanha seja oriunda da Ásia Menors, Balcãs e Cáucaso, acompanhando a história da civilização ocidental desde há mais de 100 mil anos.
• A par com o pistácio, a castanha constituiu um importante contributo calórico ao homem pré-histórico que também a utilizou na alimentação dos animais.
• Os Gregos e os Romanos colocavam castanhas em ânforas cheias de mel silvestre. Este, conservava o alimento e impregnavao com o seu sabor. Os romanos incluíam a castanha nos seus banquetes
• Durante a Idade Média, nos mosteiros e abadias, monges e freiras utilizavam frequentemente as castanhas nas suas receitas. Por esta altura, a castanha, era moída, tendo-se tornado mesmo um dos principais farináceos da Europa.
• Com o Renascimento a gastronomia assume novo requinte, com novas fórmulas e confecções. Surge o marron glacé, passando de França para Espanha e daí, com as Invasões Francesas, chegando a Portugal.
Castanhas pelo São Martinho
Assadas com sal grosso, cozidas com ervas-aromáticas, secas tornando-se “piladas” e utilizadas depois de bem demolhadas, acompanhando em puré o
utros preparos, ou servindo uma sopa aveludada e cremosa, o consumo de castanhas estendese de finais de Setembro até ao início da Primavera. São, contudo, particularmente procuradas e celebradas no dia de São Martinho, a 11 de
Novembro.
A Castanha na cozinha e tradição portuguesas
Actualmente olhamos para a castanha e associamo-la a uma época particular, vendo-a praticamente como uma deleite outonal. Contudo, noutros tempos, este fruto do castanheiro, encerrado num invólucro, lembrando um ouriço-cacheiro, possuía uma enorme importância na dieta alimentar dos portugueses. Assadas ou cozidas, as castanhas estão intimamente ligadas à tradição portuguesa.
O castanheiro, árvore de grande porte da família das fagáceas ou das castaneáceas, atinge grande longevidade; considerado para muitos povos, como um símbolo de perenidade, de fartura e abastança. O fruto do castanheiro, a castanha, eclode ao fim de 10 anos de vida da árvore, formando-se dentro de um ouriço. O termo castanheiro aparece citado num documento em 960 d.C. muito antes da formação de Portugal (1143). A castanha foi, a par da bolota, um produto básico na alimentação, até aos séculos XV/XVI, altura em que se introduz no nosso país a batata e o milho. No decorrer do século XVI, em terras do Norte e das Beiras, consumiam-se mais castanhas do que pão.
No século XVII, a castanha era considerada um dos produtos básicos da alimentação dos beirões. Em anos maus chegou a ocupar o lugar do pão, que escasseava, (fazia-se a “falacha”), e a substituir as batatas.
Para além do valor económico que ainda hoje representa para algumas terras de Trás-os-Montes, a castanha utiliza-se cada vez “O fruto dos frutos, o único que ao mesmo tempo alimenta e simboliza, cai dumas árvores altas, imensas, centenárias (…) só em Novembro as agita a inquietação funda, dolorosa, que as faz lançar ao chão lágrimas que são ouriços. Abrindo-as, essas lágrimas eriçadas de espinhos deixam ver numa carne fofa a maravilha singular de que falo. “
Miguel Torga
“Portugal”
menos em sopa no Minho e, com significado, no Alto Douro e Terra Fria Transmontana.
No Norte e na Beira Interior, regista-se a existência de grandes soutos, mas também há castanheiros na região de Entre-Douro-e- Minho e em serras como Sintra e Monchique. No Barroso fazia-se ainda há poucos anos um caldo de castanhas em que estas eram reduzidas a puré, a que se juntava apenas um pouco de unto.
Também nas feiras dos Santos da região de Valpaços, já raramente se encontra a marrã assada, acompanhada por castanhas assadas ou cozidas.
Os velhos transmontanos ainda usam as castanhas como alimento à noite. Comem-nas cozidas apenas em água e sal. Para além da sua importância alimentar, a castanha encerra um significado simbólico arreigado às festas do Ciclo do Outono. É comum nas celebrações dos Santos, Fiéis Defuntos e S. Martinho.
Alguns ditos populares com castanhas:
"Dia de São Martinho, lume, castanhas e vinho"
"Pelo São Martinho, prova o teu vinho, ao cabo de um ano já não te faz dano"
"Pelo São Martinho mata o teu porco e bebe o teu vinho"
"Pelo São Martinho semeia favas e linho"
"No dia de São Martinho fura o teu pipinho"
"O Verão de São Martinho é bom mas é curtinho"
"No dia de São Martinho vai-se à adega e prova-se o vinho"
No dia de São Martinho bebe o vinho e deixa a água para o moinho"
Informação Nutricional
As castanhas são um fruto particularmente rico em hidratos de carbono complexos. A quantidade de gordura que apresentam, é em tudo muito semelhante à dos cereais, e consequentemente, muito inferior à dos restantes frutos gordos. Por outro lado, o seu conteúdo em água é de cerca de 50 %. Todas estas propriedades fazem da castanha um fruto de teor calórico muito inferior aos restantes frutos de Outono.
Tabela de composição nutricional (por 100g de porção edível)
| Castanha assada com sal | Miolo de castanha |
Energia (kcal) | 211 | 185 |
Água (g) | 39,4 | 48,5 |
Proteína (g) | 3,5 | 3,1 |
Lípidos (g) | 1,3 | 1,1 |
Hidratos de carbono (g) | 45,5 | 39,8 |
Vitamina A (μg) | 11 | 11 |
Vitamina C (mg) | 46 | 51 |
Folatos (μg) | 56 | 61 |
Cálcio (mg) | 23 | 20 |
Potássio (mg) | 571 | 500 |
Magnésio (mg) | 48 | 33 |
mg = miligramas; μg = microgramas. Porção Edível = diz respeito ao peso do alimento que é consumido depois de rejeitados todos os desperdícios. Vitamina A = como equivalentes de retinol. Fonte: Porto A, Oliveira L. Tabela da Composição de Alimentos. Lisboa: Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. 2006, pág. 100-101.
Vantagens e desvantagens
· Pela sua riqueza em hidratos de carbono, a castanha constitui uma excelente fonte de energia.
· Em culinária, é um alimento muito versátil, podendo ser consumida apenas cozida ou assada, mas também, utilizada como acompanhamento de pratos (castanhas assadas, cozidas ou em puré), em base para sopas, na confecção de molhos e até mesmo em sobremesas e bolos.
· Ao contrário da maioria dos frutos, não é comum, consumir-se castanha crua pela sua grande adstringência e dureza.
RECEITA:
“Castanhas salteadas com cogumelos”
Ingredientes:
Castanhas:
Bacon em cubinhos:
Margarina:
Cogumelos:
Cebola: 1
Sal e pimenta
Receita:
Cozem-se as castanhas em água temperada com sal. Escorrem-se, descascam-se e reservam-se. Aloura-se o bacon numa frigideira. Depois de bem dourado, adiciona-se a cebola, finamente picada, e a margarina. Quando a cebola estiver transparente, juntam-se as castanhas e deixa-se alourar.
Lavam-se os cogumelos e cortam-se em laminas, juntando às castanhas. Tempera-se com pimenta e deixa-se saltear durante 10 minutos, mexendo de quando em vez.
Bom Apetite !!!
Fontes:
www.nestle.pt
spg.sapo.pt
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